série Aposto // Apposition series

Segue pelas ruas de Lisboa, Portugal, a intervenção urbana APOSTO, realizada pelo artista carioca Fábio Carvalho, sobre fachadas azulejares da cidade

foto: Rodrigo Vila


Para o projeto de intervenção urbana APOSTO, desenvolvido durante o período da Residência Artística HS13rc, em Lisboa, Portugal, foram criados três novos padrões de azulejo, a partir de fotos de peças da série "Delicado Desejo".



A série "Delicado Desejo" é composta por armas de fogo criadas a partir de um patchwork de diversas rendas. Como em toda a sua produção, Fábio Carvalho procura questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir, propondo uma discussão sobre estereótipos de gênero.

Os novos padrões foram impressos a laser em papel, e depois os azulejos de papel foram aplicados com cola de amido em fachadas de prédios lisboetas onde os azulejos originais já estavam em falta nestas fachadas, por deterioração ou roubo. Nenhum azulejo original foi coberto pelos de papel. Em alguns casos, foram criados padrões específicos, visando um maior diálogo entre o padrão original e o criado pelo artista.


Procurou-se aplicar os azulejos de papel da melhor forma possível para se integrarem aos azulejos já existentes nas fachadas. Desde que começou a ir à Lisboa com regularidade, a partir de 2011, o artista ficou interessado pelos “remendos” errados que as pessoas fazem nas fachadas de suas casas, usando padrões diferentes dos originais para completar os buracos que vão aparecendo. Isto foi um dos pontos de partida para o desenvolvimento desta intervenção urbana.


Fábio Carvalho em 2008 participou como voluntário de um projeto de arqueologia no Museu Nacional (RJ), em que trabalhou limpando e separando fragmentos de azulejos antigos (século XIX) pelo padrão decorativo, azulejos estes oriundos de escavações de sítios arqueológicos relacionados com o antigo Morro do Castelo, núcleo inicial de povoamento do Rio de Janeiro, que foi posto abaixo entre os anos 1920 e 1930, e usado como material para aterros pela cidade. Já aí começou um grande interesse pela azulejaria de fachada antiga.

Desde 2011, primeira vez em que esteve em Portugal para um residência artística (Bordallianos do Brasil), Fábio Carvalho tornou-se um apaixonado pela cultura portuguesa em geral, e pelos azulejos antigos em particular, tendo até mesmo iniciado naquele ano um projeto paralelo de levantamento dos azulejos antigos em sua cidade natal, o Rio de Janeiro.

Como na intervenção urbana anterior (Migração Monarca), o artista está sempre interessado em lançar mão de elementos culturais que falem da inter-relação cultural Portugal-Brasil. Da primeira vez, as decorações das festas de junho, e agora, os azulejos de fachada, que segundo muitos estudiosos foi algo que se desenvolveu no século XIX num constante feedback entre Brasil e Portugal. Fábio Carvalho também já desenvolveu outros trabalhos que incorporam elementos da cultura lusitana, como os lenços de namorado, a faiança tradicional, a decoração de porcelana da Vista Alegre, entre outros.


A intervenção, que surgiu como uma iniciativa 100% independente do artista, e começou de forma silenciosa, na calada da noite, uma vez que os azulejos de papel eram colados de madrugada, vem tendo muita repercursão tanto nas mídias tradicionais, quanto nas redes sociais. Francisco Queiroz, Doutor em História da Arte, professor na Escola Superior Artística do Porto, e consultor na área da Reabilitação de Centros Históricos, afirmou na página do facebook do Projecto SOS Azulejo (Portugal), seria uma "outra forma de chamar a atenção "para o constante problema de roubos e perdas de azulejos nas fachadas da cidade", nesta despudorada violação do patrimônio histórico público, podemos também ver uma analogia com a banalização da violência e da falta de valor da vida humana em nossos dias.

A Casa da América Latina, órgão criado e mantido em Lisboa pelas embaixadas de países latinoamericanos + Portugal, se agregou ao projeto e promoveu duas visitas guiadas a locais intervencionados, uma com diplomatas e outra para o público em geral. As visitas em seguida receberam apoio da Junta da Freguesia de Arroios, órgão que administra a região onde as intervenções aconteceram em maior quantidade.



A revista TimeOut Lisboa chegou a publicar uma matéria sobre as intervenções com o título "O que vem a ser isto?"





No total, durante 35 dias de ação mais de 300 azulejos de papel foram aplicados em 45 pontos de intervenção. Os azulejos de papel, ao mesmo tempo que causam um certo estranhamento ao olhar, podem ser por vezes facilmente confundidos com os azulejos originais.


Esta é a segunda vez em que o artista realiza um projeto de intervenção urbana naquela cidade. Ano passado Fábio Carvalho fez uma outra intervenção urbana, chamada “Migração Monarca”, durante as tradicionais Festas dos Santos Populares de Lisboa.

Os projetos de arte urbana de Fábio Carvalho atuam como pequenas inserções, peças que invadem o espaço quase como um parasita. As peças aparecem mais por tensionarem o que já está lá, em vez de impor-se de cima para baixo a um espaço. As peças exigem uma certa intimidade para entrar em ação. Eles permanecem dormentes até que você as ative com o seu olhar. Eles não gritam - sussurram.

sobre o artista: Fábio Carvalho é um artista plástico carioca (Rio de Janeiro | Brasil) em atividade desde 1994 (13 exposições individuais e mais de 140 coletivas). Participou dos mais importantes projetos de levantamento de produção de arte emergente no Brasil nos anos 1990, como Antarctica Artes com a Folha, Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas, Rumos Visuais - Itaú Cultural, Projéteis Funarte de Arte Contemporânea - RJ, Salão Nacional de Artes de Goiás e Salão Nacional de Artes Plásticas - MAM - RJ, entre outros. Fez exposições por quase todo o país, e já integrou mostras na Alemanha, Argentina, Chile, Cuba, Espanha, Equador, EUA, Hungria, Peru, Portugal, Reino Unido, República Tcheca e Rússia.

foto: Rodrigo Vila

saiba mais: www.fabiocarvalho.art.br/aposto.htm
facebook: www.facebook.com/fabiocarvalho2105
instagram: instagram.com/fabiocarvalho2105


The urban intervention Apposition, by the artist Fabio Carvalho (Rio de Janeiro, Brazil), goes on in several streets of Lisbon, Portugal, on "azulejo" (tiled) facades of city

The urban intervention "Apposition" was developed during the period of the Artist in Residence HS13rc in Anjos, Lisbon, Portugal. For this urban intervention project, Fábio Carvalho, who is an antique "azulejos" (wall tiles) fanatic, and even has a side project of surveying the old tiles in his home town, Rio de Janeiro, created three new wall tile patterns, from pictures of pieces from the artist's "Dainty Desire" series. The "Dainty Desire" series is composed of fire guns made by a patchwork of different laces. 

As usually in his work, Fabio Carvalho seeks to question the conventional idea that strength and weakness, virility and poetry, masculinity and vulnerability cannot coexist, proposing a discussion on gender stereotypes.




The tile patterns were laser printed on paper in large quantities, then the paper tiles were applied with starch glue on the facades of buildings in Lisbon, where the original tiles were already missing on these facades, by decay or theft. No real tile were covered by the paper tiles. It has been tried to apply the paper tiles as well as possible to integrate them with the existing tiles on the facades. In some cases, specific paper tile patterns were created, designed to better dialogue with the original tile pattern. 

Since Fábio Carvalho started in 2011 to go to Lisbon on a regular basis, the artist became highly interested on the wrong "patches" people make on their houses' facades, using tiles with decorative patterns that are different from the original patterns to complete the empty spaces that appear on the facade. This was one of the starting points for the development of this urban intervention.


In total, during 35 days more than 300 paper tiles were applied on 45 points of intervention. The paper tiles, while causing a certain awkwardness to the eye, can be sometimes confused with the original tiles. This is the secound time Fábio Carvalho is back to Lisbon doing and urban art intervention. In june 2014 he did the Monarc Migration” intervention. 

Fábio Carvalho's urban art projects act as small insertions, pieces that invade the space almost like a parasite. The pieces appear mostly by tensioning what is already there, rather than imposing themselves top down to a space. The pieces require a certain intimacy to get into action. They remain dormant until you activate them with your look. They do not shout - they whisper.


The intervention, which emerged as a 100% independent initiative, and was started quietly in the dead of night, since the paper tiles were glued at dawn, has had a lot of repercussion both in traditional media, as in social media. Francisco Queiroz, PhD in Art History, professor at the Arts School of Porto University, and Consultant on the rehabilitation of historic centers, stated on the Projecto SOS Azulejo's (Tile SOS Project) facebook page (Portugal) that the Apposition series would be "another form of drawing attention" to the "constant problem of theft and loss of tiles in the city's facades". In this shameless violation of the public heritage, we can also see an analogy to the banalization of violence against people, and the lack of value of the human life nowadays.

Casa da América Latina (House of Latin America), an institution created and sustained in Lisbon by the Embassies of Latin American countries + Portugal, joined forces to the project and promoted two guided tours to a selection of the intervened facades, one guided tour with Latin America's diplomats, and another one for the general public. Later on, the guided tours received support from the Junta da Freguesia de Arroios (Board of Arroios Neighbourhood), the administrative organ for the area where the art interventions mostly took place.


The TimeOut Lisbon magazine even published an article about the Apposition project with the title "O que vem a ser isso?" (What is this, anyway?).

This is the second time the artist carries out an urban art intervention project in Lisbon. Last year Fabio Carvalho did another urban art intervention there, called "Monarch Migration", during the Popular Saints of Lisbon Festivities, adding tissue paper flags with his "Monarchs" - soldiers in camouflage uniform, with butterfly wings coming out from their backs - to the already existing decorations on the streets.

Fábio Carvalho's urban art projects act as small insertions, pieces that invade the space almost like a parasite. The pieces appear mostly by tensioning what is already there, rather than imposing themselves top down to a space. The pieces require a certain intimacy to get into action. They remain dormant until you activate them with your look. They do not shout - they whisper. 


about the artist: Fábio Carvalho is a Brazilian artist (Rio de Janeiro), with 13 solo shows and more than 110 group exhibitions. Carvalho has joined shows all over his country, and also in Argentina, Cuba, Czech Republic, Ecuador, Germany, Portugal, Russia, UK and USA. Over 70 of his works are in private and public collections in Brazil and abroad.

more info: www.fabiocarvalho.art.br/aposto.htm
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instagram: instagram.com/fabiocarvalho2105

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